30% das mulheres já se endividaram por causa do parceiro

Autoestima baixa e dependência emocional são fatores que colaboram para a situação

Adriane Lorenzonn ficou cheia de dívidas e não quer mais nenhum relacionamento assimArquivo Pessoal

Elas são guerreiras, trabalhadoras, intensas e estão sempre prontas a colaborar com seus parceiros, sejam namorados, maridos, noivos e até ficantes. Mas essa ajuda, muitas vezes, traz prejuízo, emocional, patrimonial e financeiro. De acordo com uma pesquisa da Serasa, em parceria com o Instituto Opinion Box, realizada neste ano, três em cada 10 mulheres brasileiras afirmam que já se endividaram por causa de um relacionamento. Algumas já tiveram seu nome sujo e outras pagam o preço da camaradagem ou da carência até hoje. Nessa hora, o amor se torna uma tormenta financeira.
Psicóloga clínica e jurídica, perita do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em varas de família e assistente técnica e judicial em varas de família e criminais em todo o Brasil, Andreia Calçada – mestre em sistemas de resolução de conflitos e autora do livro Perdas Irreparáveis – Alienação Parental e falsas acusações de abuso sexual – afirma que é necessário analisar caso a caso.
“Em geral têm mulheres com algum tipo de dependência emocional dessa relação e desse homem e isso tem relação com baixa autoestima. Elas acabam caindo nessa situação, mantendo esse relacionamento que muitas vezes é abusivo. Muitas não sabem, mas esta questão pode ser caracterizada como abuso patrimonial. Ela entra em endividamento, que não é pago e a mulher acaba ficando com o ônus e o nome sujo, muitas vezes. Daqui a pouco, ela quita aquela dívida e continua naquele padrão, pois não consegue mudar”, diz a profissional, salientando que essa situação também pode ocorrer com os homens.
A psicóloga afirma que, atualmente, mulheres têm a capacidade de ganhar mais do que os homens, mas nem sempre o padrão emocional acompanha o financeiro. “Muitos homens aproveitam desse padrão emocional dessa mulher. São homens que não se desenvolveram e não amadureceram profissionalmente e como pessoa. Há mulheres que perdem até bens neste tipo de relacionamento”.
Para a profissional, tudo acontece da forma como esse tipo de relação se desenvolve. “É uma relação de dependência e codependência e uma forma de mantê-la. É algo disfuncional e abusivo sim. Esse tipo de relacionamento acontece muitas vezes por causa da família que falta, da família disfuncional, de suporte familiar. Independe de a mulher ter dinheiro ou não. Se ela tem uma estrutura emocional, uma autoestima boa, isso não vai acontecer’”, reconhece.
Segundo a psicóloga, quando a pessoa sabe o valor que tem não se envolve com esse tipo de homem. “A questão de a mulher ter sua autonomia financeira é algo que ajuda na sua liberdade, é um dos fatores importantes nessa união. Eu não preciso de homem para viver. Eu preciso de um companheiro que venha para somar. Se não vier somar, eu estou bem. Estou bem financeiramente. Tenho minha família, meus amigos, me divirto, até que eu possa procurar alguém bacana para dividir a vida”.
 

Decepção e mimos

A pesquisa da Serasa revelou, também, que 25% das mulheres já precisaram recorrer a empréstimo bancário devido a relacionamentos amorosos e isso causa uma grande decepção. Mulheres que se sentiram lesadas acabaram enveredando para o lado oposto. Não querem mais saber de ajudar financeiramente nenhum parceiro e agora pretendem se sentirem mimadas, cortejadas e até sustentadas pelos seus pares, as chamadas sugar daddys. A empreendedora e estudante de Administração Adriane Lorezzon, de 27 anos, foi casada por cinco anos com o pai de sua filha e acabou desistindo dos seus sonhos para correr atrás das aspirações dele.

“Depois que me separei, eu me vi sozinha, com muitas responsabilidades, e cheia de dívidas, que parcelei e pago até hoje por causa do meu então marido. Acredito que por amor a gente se sente disposta a investir no relacionamento para ambos crescerem juntos, porém acabamos nos deixando de lado e investindo mais no outro”, conta ela, que não pensa nunca mais em pagar conta para algum companheiro e muito menos se endividar.

“Hoje eu não aceito menos do que mereço e me valorizo. Depois de um casamento que me levou a ficar endividada, hoje busco alguém que já tenha construído algo, não um homem que ainda está em construção. Por isso, sou adepta do site MeuPatrocínio (especializado em sugar Babies femininos, Sugar Daddies, Sugar Babies Masculinos e Sugar Mommies)”.

Com um escritório de psicanálise, morando em São Paulo, e solteira, Carla Arruda, de 25 anos, afirma ter vivido uma paixão tóxica que trouxe prejuízos financeiros. “Foi amor à primeira vista. No começo, o Rafael parecia super responsável, um rapaz relativamente jovem (33 anos), divertido, porém, depois de um tempo, percebi que ele não tinha perspectiva de futuro e uma vida muito instável. Como estava apaixonada, não me importei tanto”.

Durante sua adolescência, Carla sempre ouviu da mãe que não deveria pagar nada para homem, mas a paixão foi mais forte e ela desobedeceu as ordens, passando a ajudar o então namorado financeiramente. “Cresci escutando da boca da minha mãe: mulher não pode gastar um centavo com homem, no máximo presente no Dia dos Namorados, Natal e aniversário. De resto, não se paga nem um suco. Em todos relacionamentos anteriores foi assim, mas com o Rafa era diferente, quando vi que as coisas iam mal, eu comecei ajudar de diversas maneiras”.
Carla, assim como muitas mulheres, caiu na conversa do Rafael. “O dinheiro mais alto que dei para ele foi por conta de uma chantagem emocional, na qual ele falou: ou me ajuda e está do meu lado ou terminamos de vez. Por medo de perdê-lo, emprestei o dinheiro que não me foi devolvido até hoje. Por isso usei a expressão dei”, afirma.

Carla, também adepta do site de encontros, disse que já teve vários relacionamentos com pessoas cadastradas no MeuPatrocínio, mas queria ter uma amor nos padrões normais. “Como meu sonho sempre foi casar e ter filhos e grande parte dos homens que usa o site é mais velho e a maioria já tem filhos ou é casado e outros são muito ocupados porque têm uma carreira promissora, pensei que com alguém fora do site fosse mais fácil concretizar o meu sonho. Mas depois da história com o Rafael, desisti’’.

Na opinião de Carla Arruda, existem diversos motivos para que as mulheres se endividem por causa de seus parceiros. “Acredito que possa existir vários motivos e diversos fatores. Eu, por exemplo, sempre tive uma boa autoestima, mas criei uma dependência emocional em relação ao Rafael. Era como se ele fosse o meu mundo, ele sabia disso e se aproveitou. Eu seria capaz de qualquer loucura por ele, inclusive uma das loucuras foi emprestar muito dinheiro a ele”. Carla admite que a obsessão a deixou sem chão.
“Qualquer pessoa quando está apaixonada de verdade fica cega, terminamos recentemente, mas já não tinha mais essa paixão, o motivo do término? Hahaha (risos). Ele me pediu para financiar uma Mercedes no meu nome, recusei e terminamos, ou seja, ele ficava comigo enquanto era viável, mas não porque gostava de mim”.
Apesar da pouca idade, ela aconselha as mulheres: “Pense primeiro em você. Pode soar um pouco egoísta, mas é a realidade, dificilmente as pessoas vão estar ao seu lado quando você realmente precisar. Jamais se anule por alguém, e não aceite chantagens, se a pessoa está com problemas financeiros é problema dela, não seu. Neste caso, dele né, imagina dar algo que você lutou para conquistar de mão beijada ? Não é nada justo!”, ensina.

Sem sacrifício financeiro

Especialista em relacionamento do site MeuPatrocínio.com, Caio Bittencourt fala o motivo por que tantas mulheres se endividam para ajudar o parceiro. “Acontece por várias razões. Mas a maior delas é a desorganização financeira e confiar muito cedo em alguém. Existem casos em que o parceiro usa de manipulação, prometendo coisas que não consegue cumprir. A mulher se sente insegura, acreditando que se não ajudar o parceiro, vai acabar o perdendo, mas no fim, isso tudo pode acabar com a mulher no vermelho, enquanto ele sai ileso. E muito provavelmente sendo imaturo, não a ajudando nas dívidas e pulando para outro relacionamento, deixando a parceira na mão”.
Caio afirma que depois de tanto ajudar o sexo oposto, e só arrumar problemas a mulher resolve dar um basta. “É por isso que tem tido um movimento grande de mulheres à procura de homens mais bem-sucedidos, maduros e consequentemente ricos, que é o comprova um aumento de mais de 270% em cadastros no site de relacionamentos MeuPatrocínio.com, um site que une mulheres jovens a homens maduros e bem-sucedidos”.

Para Caio, a mulher, ao ajudar financeiramente, está tentando garantir o carinho ou a lealdade do parceiro. “Acontece com pessoas que ainda não têm muita experiência em relacionamentos saudáveis. É uma tentativa de se encaixar ou de fazer o relacionamento funcionar de uma maneira que pode não ser a mais saudável. O ideal é buscar um relacionamento onde haja verdadeira parceria e respeito, como em todo relacionamento feliz”.
Não é raro vermos em jornais e telejornais mulheres que foram vítimas do estelionato amoroso. Algumas, mesmo com pouco tempo de relacionamento, já emprestam carros, cartões de crédito, entre outras coisas. Caio fala sobre alguns motivos para o comportamento precipitado. “Pode ser uma tentativa de mostrar que está comprometida, de apressar o relacionamento, mostrar que está totalmente envolvida, ou é só uma pessoa desapegada das coisas mesmo. Mas, muitas vezes, essa atitude só faz com que ela acabe se arrependendo mais tarde. O parceiro pode acabar se aproveitando, e a mulher pode acabar com dívidas e sozinha. Um relacionamento saudável é baseado em respeito, sinceridade e confiança, mulheres devem procurar homens maduros na vida e financeiramente para que isso não seja um problema’’.

O medo da solidão também colabora. Caio Bittencourt afirma. “Sim, muitas vezes o medo de ficar sozinha ou a carência emocional podem levar esta mulher a ter atitudes como ajudar o parceiro, mesmo que isso prejudique sua própria situação. É importante trabalhar a autoconfiança e entender que você merece alguém que te valorize de verdade, sem precisar se sacrificar financeiramente por isso”. 

Fonte: O Dia

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